segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Primeiro trecho - Harry Haller é apresentado


"Convenci-me que Haller era um gênio do sofrimento; que ele, no sentido de várias acepções de Nietzsche, havia forjado dentro de si uma capacidade de sofrimento genial, ilimitada e terrível. (...) o "amarás teu próximo!" estava tão entranhado em sua alma como o odiar-se a si mesmo." (pág. 15)

Que homem é esse, estranho, que consegue sofrer, odiando a si mesmo por amar aos outros em demasia?

Esse é Harry Haller, o protagonista de "O Lobo da Estepe", um homem que retrata muitos de nós, personagens da dita "vida real". Seres que são tão fortemente condicionados, em suas primeiras experiências, a viverem em prol do social, a serem para o mundo tudo aquilo que a sociedade quer que sejam, que acabam por anular-se, a condenar suas próprias convicções e aceitar aquela que lhes é imposta.

E Haller amou tanto o mundo e odiou tanto a si mesmo, que acabou por isolar-se da sociedade, de certa forma, talvez por temer que o mundo tivesse que suportar sua forma distinta de pensar.

Fica aí uma dúvida: Quantos de nós acabamos por isolar nossos ideais porque acreditamos serem nulos diante daqueles que são pregados ao nosso redor? Quantos de nós acabamos por condenar nossas convicções por acharmos que somos pequenos demais diante de tudo ou por temermos não ser mais aceitos na inquestionável sociedade? E finalmente, QUANTO DE NÓS vive oculto na misantropia do sentir, do ser e do estar?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sobre Lobos e Magia...


Nascido em Calw, a 2 de julho de 1877 e falecido em Montagnola, a 9 de agosto de 1962, Hermann Hesse foi um grande escritor alemão, naturalizado suíço em 1923. Vindo de uma família tradicional, ao recusar-se a seguir a religiosidade da mesma, rompe os laços e emigra para a Suíça em 1912, trabalhando como livreiro e operário. Tais ofícios o ajudaram a desenvolver-se, ainda mais, culturalmente, estimulando na dedicação à literatura.

Suas obras foram desenvolvidas sob forte influência da psicanálise (influência em específico através da convivência com certo discípulo de Carl Gustav Jung) e da espiritualidade oriental (à partir de sua viagem em 1911 à Índia).

O Lobo da Estepe surge como uma crítica ao militarismo vigente na Alemanha pós-guerra. Publicado em 1927, é considerado uma das melhores obras de Hesse e um dos mais representativos romances do século XX. O livro conta a história de Harry Haller, um solitário misantropo que vive seu isolamento de uma maneira absolutamente ímpar. Inversamente isolado dos homens e acompanhado da arte literária produzida pelos mesmos. Uma crítica às formas e valores impostos e cultuados como únicos e inquestionáveis em perfeição, na medida em que seu protagonista se revela em sua inadequação e na fantástica capacidade melancólica de demonstrá-la em palavras.

Essa maravilhosa busca ou fantástico mergulho dentro de si mesmo e das sensações e percepções manifestadas magnificamente, têm o poder de nos conduzir ao mundo solitário e único do lobo Haller, têm a capacidade de nos levar a esse "Teatro Mágico", que precisa ser desfrutado em sua minuciosidade, que é a vida.

O talento da escrita de Hesse, demonstrado nas falas de Haller, tem o poder de nos dar ingresso nessa magia, onde a entrada só é permitida para os raros, (...) ou para os loucos, que não temem compartilhar o sentir, por mais doloroso e enlouquecedor que seja seu manifestar pleno.

Uma obra sobre lobos e a magia que deles emana...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Porquê do "SÓ PARA OS RAROS - SÓ PARA LOUCOS"


Como apreciadora de boas músicas e bons livros, inicio-me mais uma vez na empreitada de escrever um blog e é assim que o descrevo também, como uma compilação de minhas boas, que para mim são as melhores, escolhas. Esse blog nasce de umas poucas exceções que fiz em minhas escutas musicais. Geralmente não me atenho na história das bandas que ouço, simplesmente as ouço se achar conveniente e de bom grado aos meus ouvidos e à minha concentração de leitora que lê e escuta músicas a um só tempo. "Mas, porém, contudo, todavia," fascinada pelas letras e pela arte em geral de um grupo de loucos brilhantemente denominados "O Teatro Mágico", estando com uma amiga navegando pela net, investigando um pouco mais sobre o grupo, nos deparamos com o fato de o nome do grupo surgir a partir de um livro de Hermann Hesse, intitulado "O Lobo da Estepe".

Uma vez baixado e por muito tempo guardado, resolvo, um dia, volver-me a obra e foi com o grande fascínio que a mesma me despertou, que nasceu o desejo de criar o "SÓ PARA OS RAROS - SÓ PARA LOUCOS", um blog com postagens iniciais de trechos da obra "O Lobo da Estepe" de Hermann Hesse, seguidos por comentários interpretativos acerca dos mesmos. Depois disso, veremos o que se passará. A você que nos visita, seja bem vindo e esteja ciente do título do blog. Aqui, lanço mão de algumas palavras retiradas da obra do brilhante Hesse:

"Essas anotações - e é indiferente saber se nelas existe uma grande ou pequena dose de realidade - são uma procura, não de vencer a enfermidade da época com rodeios ou paliativos, mas um intento de converter a própria doença em objeto de interpretações. Significam literalmente uma jornada pelo inferno, uma caminhada algumas vezes angustiosa, outras cheia de entusiasmo através do caos de um mundo anímico tenebroso, caminho percorrido com a vontade de atravessar o inferno, de oferecer a face ao caos, de padecer o mal até o fim." (O Lobo da Estepe, pág. 26)

Deixo a interpretação com você dessa vez. Que lhe seja agradável percorrer esse caminho que traço a partir das palavras sábias e profundas de grandes gênios. E mais uma vez, esteja ciente de que o blog foi feito...



"SÓ PARA OS RAROS - SÓ PARA LOUCOS..."